Marcus De Mario
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De tempos em tempos a humanidade é acometida de uma grande tragédia, ocasionada por fenômenos naturais como terremotos, vulcões, maremotos, incêndios florestais, enchentes, com a morte de centenas e até milhares de pessoas. Há ocasiões em que as tragédias acontecem num curto período de tempo, atingindo várias regiões do planeta, e a soma das vítimas impressiona até o mais frio e calculista dos homens. Certamente que, sendo Deus justo e bom, essesfenômenos naturais haverão de ter uma causa justa, e se alguns sobrevivem às tragédias enquanto outros sucumbem, haverá para esse fato uma razão lógica, pois não é possível que Deus sancione o acasopara escolher quais dos seus filhos merecerá continuar a existência terrena, visto que isso é incompatível com sua plena sabedoria e misericórdia.
Vejamos, a partir de um estudo básico nas obras da codificação espírita, como Allan Kardec e os Espíritos Superiores explicam as causas e as conseqüências desses fenômenos naturais e sua repercussão junto ao progresso da humanidade.
A Reencarnação
Partindo do princípio que somos espíritos imortais criados por Deus para, através da lei do progresso, atingirmos a perfeição, tanto moral como intelectual, sabemos que para atingir esse fim necessitamos da reencarnação, ou seja, das existências corpóreas, quando temos a oportunidade de exercitar os conhecimentos e aplicar as virtudes.
Em “O Livro dos Espíritos” encontramos na questão 132 aexplicação sobre a finalidade da encarnação: “Deus a impõe com o fim de levá-los (os espíritos) à perfeição: para uns, é uma expiação; para outros, uma missão. Mas, para chegar a essa perfeição, eles devem sofrer todas as vicissitudes da existência corpórea: nisto é que está a expiação. A encarnação tem ainda outra finalidade, que é de por o espírito em condições de enfrentar a sua parte na obra da criação. É para executá-la que ele toma um aparelho (corpo) em cada mundo, em harmonia com a sua matéria essencial, a fim de nele cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. E dessa maneira, concorrendo para a obra geral, também progride” (1).
Façamos um resumo didático sobre a encarnação:
1. É uma imposição de Deus.
2. Sua finalidade é levar o espírito à perfeição.
3. Pode ser uma expiação para uns, e uma missão para outros.
4. Coloca o espírito em condições de colaborar com a obra da criação divina.
5. É necessário ao espírito a utilização de um corpo orgânico.
6. O espírito progride na medida em que colabora na obra geral.
Em nota à questão 171, Kardec afirma: “Todos os espíritos tendem à perfeição, e Deus lhes proporciona os meios de consegui-la com as provas da vida corpórea. Mas, na sua justiça, permite-lhes realizar, em novas existências, aquilo que não puderam fazer ou acabar numa primeira prova” (2).
Se os homens observassem a lei divina, utilizando a presente encarnação para os fins propostos por Deus, e não simplesmente para gozo e satisfação egoísta dos bens terrenos, outra seria a condição da sociedade humana e também do planeta que habitamos. E, diante de uma tragédia, não haveria porque entrar em desespero, reconhecendo que um fim justo e superior comanda nossa vida.
Há, ainda, outra questão: as tragédias muitas vezes são anunciadas, ou seja, o homem sabe que corre sério risco, mas sua imprevidência, sua incúria, sua indiferença acabam aumentando a proporção das mesmas, encurtando assim o tempo da encarnação, o que lhe não permite usufruir das oportunidades que teria de aprendizado e trabalho para o seu progresso.
Os Fenômenos da Natureza
Ainda na obra básica da codificação espírita (3) encontramos algumas explicações sobre esses fenômenos da natureza, que, resumidamente, são as seguintes:
1. Esses fenômenos não acontecem por acaso.
2. Eles acontecem com a permissão de Deus.
3. Freqüentemente seu objetivo é o restabelecimento do equilíbrio e da harmonia da natureza.
4. Apenas algumas vezes o objetivo é atingir o homem.
5. Os fenômenos da natureza são comandados por espíritos encarregados por Deus dessa ação.
Mais adiante, já na terceira parte de “O Livro dos Espíritos” (4), várias informações são dadas pelos Espíritos Superiores, destacando-se a questão 737: “Pergunta: Com que fim Deus castiga a humanidade com flagelos destruidores? Resposta: Para fazê-la avançar mais depressa. Não dissemos que a destruição é necessária para a regeneração moral dos espíritos, que adquirem em cada nova existência um novo grau de perfeição? É necessário ver o fim para apreciar os resultados. Só julgais essas coisas do vosso ponto de vista pessoal, e as chamais de flagelos por causa dos prejuízos que vos causam; mas esses transtornos são freqüentemente necessários para fazerem que as coisas cheguem mais prontamente a uma ordem melhor, realizando-se em alguns anos o que necessitaria de muitos séculos”.
Em nota a essa questão, o filósofo, escritor e tradutor J. Herculano Pires lembra que, assim, Deus provoca um “salto qualitativo” no desenvolvimento do homem, e que esses fenômenos estão integrados no processo geral da evolução.
A Evolução do Homem
Diante de todas as explicações que o Espiritismo nos oferece, destacamos, para finalizar nossas rápidas apreciações, o seguinte texto do codificador (5):
“Fisicamente, a Terra já teve as convulsões de sua infância; ela entrou num período de estabilidade relativa: no período do progresso pacífico, que se realiza pela reprodução regular dos mesmos fenômenos físicos, e pelo concurso inteligente do homem. Porém ela ainda está em pleno trabalho de gestação do progresso moral. Aí residirá a causa de suas maiores comoções. Até que a humanidade haja crescido suficientemente em perfeição pela inteligência e pela prática das leis divinas, as maiores perturbações serão causadas pelo homem, e não pela natureza, isto é, serão mais morais e sociais que físicas” (grifos originais).
Não há frieza nas explicações espíritas, pois diante de uma tragédia física ocasionando a morte de muitas pessoas, devemos nos sensibilizar e agir em benefício dos que sobreviveram, assim como orar pelos que retornaram ao mundo espiritual, exercitando plenamente a caridade. Apenas constatamos que tudo tem uma causa justa, e que o próprio homem é, muitas vezes, responsável direto pelo agravamento do mal necessário.
Quando tomarmos as providências necessárias os estragos serão minimizados, e mais do que contabilizar prejuízos financeiros, aprenderemos a valorizar a vida, pois as grandes tragédias não são ocasionadas pela ação das forças da natureza, mas ocasionadas pelo homem na sua ação terrena, já que se traduzem por espetáculos de conseqüências morais.
A evolução do homem deve equilibrar ações inteligentes com ações morais, para o bem coletivo, e sempre que ele concorrer para a obra geral do criador estará dando um passo decisivo no rumo da perfeição.
Bibliografia
(1) O Livro dos Espíritos. Allan Kradec. São Paulo: Feesp,1972.
(2) O Livro dos Espíritos. Allan Kardec. Primeiro parágrafo. São Paulo: Feesp, 1972.
(3) O Livro dos Espíritos. Allan Kardec. Questões 536 a 540. São Paulo: Feesp, 1972.
(4) O livro dos Espíritos. Allan Kardec. 3ª parte, capítulo 6, questões 737 a 741. São Paulo: Feesp, 1972.
(5) A Gênese. Allan Kardec. Capítulo 9, item 14. São Paulo:Lake, 14ª ed., 1985.
Marcus De Mario é escritor, educador e consultor, sendo diretor do IBEM – Instituto Brasileiro de Educação Moral e membro do GEPE – Grupo de Estudo e Pesquisa Espírita.
Artigo publicado na Revista Internacional de Espiritismo, abril 2005.