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O ESPIRITISMO É INCOMPATÍVEL COM O PERSONALISMO

 

Rubens Araujo

 

            Iniciamos com a primeira demonstração inscrita no Livro Obras Póstuma, quando o ainda Hippolyte Léon Denizard Rival questiona: – Espírito Familiar, quem quer que sejais, agradeço-vos a visita e peço-vos que digais quem sois? Obtendo a seguinte resposta: – Para ti, chamar-me-ei A Verdade….

No momento apropriado Hippolyte adotou o pseudônimo de ALLAN KARDEC, para separar sua vida pessoal da missão que lhe estava reservada para a Codificação da Doutrina Espírita.

A ausência de personalismo e radicalismo no espiritismo é uma consequência natural da sua proposta de liberdade e progresso. O espiritismo não impõe nem proíbe nada, mas sim convida cada um a examinar, experimentar e comprovar por si mesmo os fenômenos e as leis que regem a vida. O espiritismo também não se fecha em si mesmo, mas sim se abre ao diálogo e à colaboração com todas as áreas do saber humano, reconhecendo que a verdade é relativa e que há sempre algo a aprender.

Um dos desafios atuais que se apresentam em vários setores da vida de relação, diz respeito a um grande inimigo comum que faz ruir as mais belas realizações e o trabalho em equipe, muitas vezes de séculos: o personalismo. Ele é uma fragilidade de caráter ainda presente em nossa atual condição evolutiva de Espíritos imperfeitos, cuja natureza moral, como anotou Kardec, mantém a “Predominância da matéria sobre o espírito. Propensão ao mal. Ignorância, orgulho, egoísmo e todas as más paixões que lhe são consequentes”.

Neste sentido, parece-nos justo recordarmos o benfeitor Emmanuel, quando nos alerta que: “Fraternidade pode traduzir-se por cooperação sincera e legítima, em todos os trabalhos da vida, e, em toda cooperação verdadeira, o personalismo não pode subsistir, salientando-se que quem coopera cede sempre alguma coisa de si mesmo, dando o testemunho de abnegação, sem a qual a fraternidade não se manifesta no mundo, de modo algum”.

O Evangelho pede colaboração com renúncia, desapego da própria personalidade no serviço que nos compete, humildade é a chave. Estejamos atentos para banir o cisto moral do personalismo e estejamos atentos pois, como bem alertou a médium Yvonne do Amaral Pereira no livro Devassando o Invisível: “o personalismo, se se infiltrar na Doutrina Espírita, acarretará a sua corrupção, como sucedeu ao próprio Cristianismo”.

Onde impera o personalismo não há fraternidade e, é bom sabermos onde não há fraternidade, não temos Cristianismo Redivido! Agindo assim, perturbaremos a marcha do despertar da criatura humana para a expressão mais pura da Lei de Deus que é a Boa Nova.

O personalismo é um reflexo de nossa indigência espiritual. A abnegação traduz, na sua melhor acepção, o termo inteligência espiritual. A inteligência espiritual é a inteligência da alma. Sendo através da inteligência com o qual nos curamos e com a qual nos tornamos seres verdadeiramente íntegros.

É preciso, então, olhar o personalismo que habita ainda nossos corações. Vigiá-lo sem trégua e orarmos, buscando a assistência dos bons Espíritos, a fim de que nossos interesses banais, notadamente no setor de realizações que a vida nos situou, não obstem as nobres realizações em prol do bem comum e da Doutrina Espírita.

Transcrevemos por fim para meditação final, na integra, a questão de número 895 de o Livro dos Espíritos: – Além dos defeitos e dos vícios sobre os quais ninguém se enganaria, qual é o sinal mais característico da imperfeição?

– “O interesse pessoal. As qualidades morais, frequentemente, são como a douração colocada sobre um objeto de cobre e que não resiste a pedra de toque. Um homem pode possuir qualidades reais que o fazem, para todo o mundo, um homem de bem. Mas essas qualidades, ainda que sejam um progresso, não suportam sempre certas provas e basta, às vezes, tocar a corda do interesse pessoal, para pôr o fundo a descoberto. O verdadeiro desinteresse é uma coisa tão rata sobre a Terra, que se o admira como um fenômeno quando ele se apresenta.

O apego às coisas materiais é um sinal notório de inferioridade, porque quanto mais o homem se prende aos bens deste mundo, menos compreende sua destinação. Pelo desinteresse, ao contrário, ele prova que vê o futuro de um ponto de vista elevado”.