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Os Aflitos Bem-Aventurados – Arlett R.C. Matheus

 “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão saciados. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor à justiça, porque deles é o Reino dos Céus”- Mateus 5: 4-6, 10

Jesus, no alto do monte, fala aos discípulos e à multidão aludindo à vida futura, ao aprendizado que os momentos dolorosos proporcionam e que, em sendo bem aproveitados, libertam do egoísmo e do orgulho, vícios tão arraigados ainda na vida de todos nós. Vícios que precisam ser erradicados, às vezes, pelos fórceps das experiências difíceis.
“Sabiamente foi dito que inteligente é quem aprende com os próprios erros; sábio, quem aprende com os erros alheios” sem a necessidade de sofrer na pele para aprender.
No nível evolutivo em que nos encontramos, precisamos ainda sentir a dor, as aflições, as dificuldades, para aprender o melhor caminho a seguir, as escolhas felizes a fazer.
Seria muito mais fácil se observássemos os resultados colhidos por aqueles que adotam comportamentos escusos, se igualmente observássemos que todos os nossos atos geram consequências. Se assim nos policiássemos, daríamos maior atenção ao nosso plantio para não chorarmos na colheita.
O aprendizado poderia ser mais efetivo e suave se a razão, o bom senso, presidissem nossos atos.
A dor não é patrimônio do espírito, criado para desenvolver seu potencial para o bem, para aprender, evoluir, amar e ser feliz.
Jesus nos fala em bem-aventuranças, num futuro mais ou menos distante, conforme as disposições de cada um para aproveitar as lições que a justiça divina nos oferece como recurso libertador.
Deus, soberanamente Bom e Justo, não condena o pecador irrevogavelmente, fornece-lhe sim a oportunidade de reparação. Não coloca sobre seus ombros fardos superiores as suas forças e a sua capacidade de aprender e corrigir-se.
A dor, que agora nos acomete, é a melhor intervenção divina para nos levar a discernir entre o Bem e o Mal.
A Doutrina Espírita esclarece o homem sobre essa bondade divina assentada na justiça. Explica os sofrimentos sem causas plausíveis nesta vida, com raízes em outras existências, sempre atrelados ao caráter e à conduta daqueles que o sofrem. “A quem, pois, há o homem de responsabilizar por todas essas aflições, senão a si mesmo?”
As leis humanas punem os desrespeitos à Lei, às infrações que redundam em prejuízo à sociedade, mas seu código penal não alcança todas as faltas, não tem abrangência sobre as faltas morais que prejudicam entre outros, o próprio infrator, conforme nos esclarece o cap.V do E.S.E.
“Deus quer o progresso de todas as criaturas e, por isso, não deixa impune nenhum desvio do caminho reto. Não há uma só falta, por mais leve que seja, uma só infração da sua Lei, que não tenha consequências forçosas e inevitáveis, sempre penosas, com maior ou menor intensidade ”…“Confiante na impunidade, a criatura retardaria seu avanço e, assim, a sua felicidade futura”
Ao sofrer com rebeldia, com revoltas e revides, o homem se afunda nas suas mazelas, sofre e não se liberta, comprometendo mais o seu futuro.
Os seguidores de Kardec, respaldados pela filosofia espírita, tem mais condições de entender a dinâmica do sofrimento. Muitas almas nobres que não tem acesso a essas informações, ancorados na fé que professam, aceitam o momento difícil como vontade de Deus, mesmo sem entendê-la, e a ela submetem-se com resignação, sem compreender que esses momentos são reparadores. Guiam-se apenas pela Fé.
Ao dizer Bem-Aventurados os Aflitos, Jesus não faz apologia do sofrimento, não se refere simplesmente ao que sofre e sim pontua aquele que sente a dificuldade como oportunidade de reparação.
Refere-se aos que sabem sofrer, ao brandos e pacíficos, aos que confiam na bondade e Justiça do Pai Celeste e se beneficiam com as dores morais e físicas, com os resgates e provas libertadoras.
Reagir ao sofrimento ancorados pela fé e a razão, torna mais suave o momento difícil, principalmente quando se reúne forças para contribuir e minorar o mal que também assedia o outro. É o que nos revela Viktor E. Frankl: “Quando eu vivia nos campos de concentração da Alemanha nazista, pude observar que alguns dos prisioneiros andavam de barraca em barraca, consolando outros, distribuindo suas últimas fatias de pão. Podem ter sido poucos, mas me ensinaram uma lição que jamais esqueci: tudo pode ser tirado de um homem, menos a última de suas liberdades: escolher de que maneira vai agir diante das circunstâncias do seu destino”
Esta postura tem hoje o nome moderno de resiliência, que nada mais é do que reagir à dor e ao sofrimento com coragem, com humanidade dentro do que lhe é possível.
“A frase Bem-aventurados os aflitos, pode então ser traduzida da seguinte forma: Bem-aventurados os que tem a ocasião de provar a sua fé, sua firmeza, sua perseverança e sua submissão à vontade de Deus, pois eles terão centuplicada a alegria que lhes falta na Terra. Após o trabalho virá o repouso”- Lacordaire, Havre 1863.