Não vou falar dos predicados de Wallace, que eram muitos do ponto de vista cultural.
Como sabemos, Wallace era escritor, tradutor, compositor, trabalhou com teatro, cinema, coreógrafo, colaborou em tantas outras coisas.
Enfrentou dificuldades, logrou sucesso e ei-lo, hoje, sendo homenageado pelo centenário de seu nascimento. Wallace nasceu no dia 11 de dezembro de 1924, em Divisa, Espírito Santo.
Por que a homenagem?
Não só pela sua inteligência, não só pelas suas glórias, cultura, criações e arte. Também porque e, sobretudo, pela pessoa que era e é, claro, continua sendo no plano espiritual.
Wallace tinha uma conduta marcada por grande humildade no relacionamento com outras pessoas, dentro e fora do meio espírita. Espírita exemplar que era, fomentador do progresso intelectual e moral, nunca se preocupou em mostrar aos outros as suas virtudes. Incentivador da Mocidade Espírita, na Sociedade Beneficiente Obreiros do Bem, sempre participou de suas realizações, estimulando a Mocidade a continuar no caminho do bem e a continuar na divulgação da Doutrina à luz de Allan Kardec. Lembro-me de sua participação nas nossas reuniões, tornando-as bem interessantes com conhecimentos espíritas e exemplos espetaculares.
Naquela época, os componentes da Mocidade iam juntos, às vezes, assistir a filmes aos sábados e Wallace nos acompanhava, numa alegre excursão.
Nas “Tertúlias”, realizadas na S.B.O.B., com componentes da Mocidade e adultos, não para reuniões literárias, mas para realizações artísticas, geralmente, com Luiz Raymundo Parreira ao piano e lá estava o nosso querido Wallace nos apoiando e avaliando o evento, demonstrando um senso de cooperação, sempre se apresentando de maneira simples entre as pessoas, sem nenhuma preocupação de ostentar-se.
Certa vez, eu vi um quadro de Madame de Staël, ensaísta e escritora francesa, com um sorriso bem largo. Numa reunião, Wallace falou um pouco da vida dele no passado, em outra encarnação. E, pelo que falou, batia com a história que eu conhecia da vida dela. Havia estudado em Literatura Francesa alguns episódios da vida da escritora. Nesse momento disse a ele: “Pelo que você conta, você foi Madame de Staël na outra encarnação, não é?” Ele sorriu largamente e era o mesmo sorriso que eu havia visto no quadro. Que saudade!
A quarta COMENESP (Confraternização de Mocidades Espíritas do Estado de São Paulo), foi realizada em Araraquara. A S.B.O.B. sediou o evento. Muita correria, muita preparação, muito trabalho para as Mocidades Espíritas (outras também participaram) e lá também estava Wallace a nos apoiar e prestigiar o movimento.
Aliás, a irmã dele, a Dona Ninira, ajudou muito na realização do evento. Era ela quem preparava as refeições para os jovens e expositores participantes. Wallace e Dona Ninira eram sempre comprometidos com o ideal Espírita.
Wallace era uma grande luz que convivia bem com seus irmãos de crença ou não. Simples, modesto, compreensivo, sempre se preocupou com o seu semelhante. Fundou o Clube “Lívia Cornélia”, um clube que fazia enxovais para crianças recém-nascidas, de mães em dificuldade.
Vindos de Uchoa, ele e seus pais moraram com Dona Ninira, esposa do senhor Rafael Medina. Wallace iniciou as atividades do clube na garagem da casa da irmã, onde também criou sua biblioteca, e numa das salas do prédio principal da S.B.O.B. E na S.B.O.B. era feitas reuniões de estudo com o grupo que pertencia ao clube, para as quais fui convidada a participar algumas vezes. Quem dirigia? Wallace Leal Valentim Rodrigues.
O clube “Lívia Cornélia” passou a funcionar na creche e continua até hoje. Esse clube, fundado por Wallace, continuou sendo dirigido por membros da família.
Com sua serenidade, Wallace percebia, sem fazer alardes, as dificuldades que os jovens espíritas tinham ao promover eventos que exigiam maior amadurecimento e cultura.
Foi criado, em Araquara, um núcleo do Movimento Universitário Espírita do Estado de São Paulo. E, como tal, seu objetivo era ampliar conhecimentos espíritas, incentivar os jovens e espíritas em geral ao estudo da Doutrina, trazida pelos Espíritos de Escol, através da codificação de Kardec.
Foi organizado na S.B.O.B. um seminário sobre o livro “Sexo e Destino”, de André Luiz, psicografia de Chico Xavier e Waldo Vieira. Tive a incumbência de dirigir esse evento. A sala lotou. Não era tarefa fácil fazer a análise de um livro como esse. Mas, com a ajuda do Wallace, pessoa polida, inteligente, de extraordinária cultura, o seminário foi um sucesso. Ele fez um estudo psicanalítico do livro, com muita profundidade, porém, compreensível para todos.
Não existem palavras para agradecer uma alma tão generosa como ele. Sabia das dificuldades dos jovens, conhecia suas fraquezas e nunca lhes recusou ajuda.
Esse era o Wallace. Tendo condições de “ostentar” pelo valor intelectual e moral que possuía, sempre foi aquele que cumpriu fielmente as palavras de Jesus:
“O maior entre vós seja como o menor; e quem governa, como quem serve” (Lucas).
“Quem quiser ser o maior entre vós, seja aquele que vos serve” (Mateus)
Nilza V. Mello